A ciclicidade das coisas
João Carlos
- janeiro 25, 2025
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Entra janeiro com suas peculiaridades. Seus dias intercalados de manhãs radiosas de sol intenso, céu azul e nuvens viajeiras muito brancas, outras manhãs sombrias de céu coberto de nuvens de chumbo. As tardes costumam trazer chuvas repentinas e ruidosas, seguidas de inundação. Janeiro traz também as liquidações no comércio e as pessoas fazem fila na madrugada para comprarem sua felicidade em doze vezes no cartão. É também em janeiro que se começa a por em execução os projetos de pecúlio, de dieta, de empreendimentos diversos. Projetos que podem ser bem sucedidos ou se perderem pouco a pouco no correr dos dias que se sucederão, indiferentes aos sonhos e às frustrações de cada um.
Reflito sobre a reconfortante ciclicidade das coisas e recordo as palavras do poeta: “tudo acaba onde começou”. Posso sonhar, empreender, construir, deixar minha marca, positiva ou negativa, no mundo, mas voltarei irremediavelmente ao pó de onde um dia saí, e os demais elementos do universo de que um dia fiz parte continuarão existindo, cumprindo ciclicamente o papel que lhes cabe.
A palavra ciclo tem origem no termo grego kiklos, que significa roda, círculo, forma redonda ou coisa disposta em círculo. A palavra equivalente no Latim é “rota”, donde deriva o termo “rotação” e também a palavra “rotina”, tão presente em nosso vocabulário cotidiano, pelo peso mesmo da presença em nossa vida daquilo que ela significa. De fato, temos nossa rotina anual que é o tema desta crônica, e também a diária, a semanal e a mensal e por mais que algumas pessoas afirmem não gostarem de rotina, ela é inevitável e essencial para que as coisas funcionem, como gostamos de dizer, “redondinhas”.
Tendo consciência da rotina, ou seja, da ciclicidade das coisas, podemos organizar nossa vida de acordo com o conhecimento do que virá. A pessoa comum vive sobrecarregada de imposições rotineiras de que não tem como escapar, a maioria impingida pelo governo, cuja máquina pantagruélica tem de ser alimentada todos os dias do suor da gente trabalhadora.
Outras aflições, no entanto, nos são impostas pelos ditames da moda, pela nossa vaidade pessoal, ou pela desenfreada e inútil busca pela felicidade, lá onde ela não poderá ser encontrada.
Carlinhos Colé