Breno silva

Ôh, abre alas que eu quero passar…

  • março 29, 2025
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Ôh, abre alas que eu quero passar…

O mês de março chegou e passou deixando a marca do Carnaval que explodiu em cores e batuques, abrindo alas para o que muitos chamam de “o verdadeiro começo do ano”. A festa, que rompe a rotina, parece marcar um último suspiro de liberdade antes do retorno à ordem. Mas, assim como as folhas que caem com a chegada do outono, nem toda mudança é apenas celebração, às vezes, é um convite à reflexão. Já parou pra pensar no que o Carnaval pode representar?
Uma festa onde o tempo se suspende e a fantasia toma o lugar do cotidiano. Mas, enquanto as serpentinas enfeitam o ar, uma pergunta paira no vento: Já parou pra pensar? Será que essa curtição é celebração ou ilusão?
Há quem veja o Carnaval como a epifania do prazer. A grande válvula de escape de um país cansado e esgotado, onde, por alguns dias, a existência se permite ser apenas dança, canto e riso. E, de fato, há algo de sublime no espetáculo de cores e brilhos que varre as cidades. A sociedade, por um instante, acredita ter conquistado a liberdade, como se a quarta-feira de cinzas fosse um horizonte distante que jamais chegaria.
Mas chega! Sempre chega…
E é aí que a máscara começa a pesar. Para alguns, a folia não é apenas um ato de celebração, mas um anestésico para dores que não sabem como enfrentar. O brilho do confete encobre um olhar perdido, e a embriaguez do momento serve para silenciar aquilo que, na rotina, grita. O Carnaval se torna um pacto coletivo de esquecimento, um acordo silencioso para varrer para debaixo do tapete as angústias que assombram a alma.
O problema é que a dor, quando ignorada, não se dissolve – ela se acumula. Como uma represa prestes a romper, a ilusão da liberdade carnavalesca pode levar, paradoxalmente, a um cárcere ainda mais sufocante. A pessoa que dança sem saber por quê, que ri sem sentir alegria, que se entrega ao frenesi apenas porque todos o fazem, pode descobrir, na ressaca dos dias seguintes, que sua tristeza se multiplicou.
O filósofo e psiquiatra Viktor Frankl dizia que o ser humano não pode viver sem um sentido. Quando se vive apenas para anestesiar o vazio, cedo ou tarde ele cobrará sua conta. E não se trata de demonizar a festa, mas de compreender seu papel. Diversão não pode ser fuga. O prazer, quando desconectado da consciência, torna-se uma prisão dourada.
É importante então, parar um pouco e pensar: estou dançando porque minha alma está em festa ou porque tenho medo do silêncio? Estou me misturando à multidão por escolha ou por temor da solidão? O Carnaval é a celebração de minha alegria ou apenas um breve intervalo antes do retorno à angústia?
Que nossas alegrias do dia a dia sejam genuínas em nossas vidas. Que o riso venha do coração e que a festa não seja o esquecimento de si, mas um encontro consigo. Se for para abrir alas, que seja para passar com verdade, sem máscaras que pesem ao amanhecer.