Luciano de Assis

Conhecimento em tempos de coaches…

  • abril 26, 2025
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Conhecimento em tempos de coaches…

Em 1819, o filósofo alemão Arthur Schopenhauer publicava sua mais importante obra: “O Mundo como Vontade e Representação”, onde afirma que “o mundo é produto de uma vontade cega e maligna” e que “quanto mais claro é o conhecimento do homem – quanto mais inteligente ele é – mais sofrimento ele tem; o homem que é dotado de gênio sofre mais do que todos.”.
Essa afirmação, hoje, duzentos e seis anos depois, me parece muito assertiva. Nunca na história da humanidade se registrou tantas gentes oferecendo um conhecimento que não possuem, explorando, inconscientemente, a “vontade cega” de se alcançar sucesso sem muito esforço; sem “muita bunda na cadeira” pela busca do conhecimento real.
Os famosos “coachs” (do inglês: treinadores) profissionais que (supostamente) ajudam pessoas ou grupos a atingirem seus objetivos (pessoais ou profissionais), brotam como erva daninha.
Em uma busca rápida na “blogosfera”, encontrar-se-á indivíduos de doze anos dando lições de vida; de uma vida que ainda não viveram. Estes indivíduos, com milhões de seguidores, oferecem como receita de bolo, um único método como solução para os problemas de todas as pessoas dispostas a dedicarem algum tempo e, claro, algum investimento financeiro; sem levarem em conta a idade, o intelecto, a aptidão, o dom, a vocação, a localização geográfica e a composição familiar. Basta “comprar’ um curso rápido para alcançar o sucesso.
Outro dia recebi em meu WhatsApp pessoal uma oferta para adquirir um curso “revolucionário” de escrita criativa, que faria com que meus escritos se destacassem na multidão de escritores que ainda não haviam tido a oportunidade de conhecer essa nova e revolucionária técnica. Curioso, acessei o link, busquei pelo autor: um jovem de vinte e dois anos, que nunca publicou qualquer texto, artigo ou livro em sua breve vida. Exemplificando a ideia, defendida por Schopenhauer, o vivente em questão, inconscientemente, apostava na minha “vontade cega”, pelo sucesso, para alcançar o seu sucesso, me vendendo um curso, do qual eu fatalmente não alcançaria meu objetivo. Uma prova de que todo conteúdo de “autoajuda” só ajuda quem o produz. Livros de autoajuda ajudam somente a quem os escreve.
Em contrapartida vejo, nos dezessete anos que trabalho como vendedor de livros no Sebo Entre Aspas, uma geração esgulepada por conhecimento.
Nunca, nesses dezessete anos, se registou tantas gentes buscando por livros de autores como Camus, Sartre, Nietzsche, Dostoievski, Beauvoir, Kafka, Orwell, Bradbury ou Huxley. São jovens de vinte a vinte e cinco anos, que cursam duas universidades simultaneamente; são fluentes em dois ou mais idiomas; possuem repertório didático e intelectual e, apesar disso, sofrem com as incertezas, com as dúvidas. Vivem em crise de identidade e buscam uma ideologia, um sentido para a vida e para as coisas.
Isso tudo me leva a à mesma conclusão de Bertrand Russel em seu artigo “O triunfo da estupidez”: — “A causa fundamental dos problemas do mundo moderno é que os idiotas estão cheios de certeza enquanto os inteligentes estão cheio de dúvidas”.
Para encerrar esse meu textículo pseudofilosófico, deixo uma frase de Nelson Rodrigues: “Os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade. Eles são muitos”.
Não seja mais um: leia, estude, pesquise, se informe, pergunte; tenha pensamento crítico e duvide de tudo.
Ou não…