Mês das mães: Entre a dor e o amor
João Carlos
- maio 23, 2025
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O mês de maio é marcado pela data mais acolhedora e amorosa do ano. Uma pausa para celebrar a vida daquelas que merecem todos os dias nossa honra, que com coragem e entrega, acolhem a missão de cuidar, formar, amar e sustentar a vida. Ser mãe é assumir um chamado que envolve riscos, incertezas e noites mal dormidas, mas também é viver o privilégio da forma mais profunda de amor e sentido.
Curiosamente, nesse cenário de homenagens do mês de maio, surgiu uma questão inquietante sobre as mães de bebês reborns. Já parou pra pensar por que tantas pessoas têm buscado substituir vínculos reais por vínculos simbólicos, como no caso crescente dos bebês reborns? O que isso diz sobre a necessidade humana de se relacionar?
Bonecas hiper-realistas que simulam bebês de verdade têm se tornado objeto de afeto para adultos que encontram neste “objeto” um vínculo. Talvez um vínculo que se foi, um vínculo que talvez não seja possível por inúmeras questões biológicas, enfim, algo que vem para “cobrir” um vazio.
E aqui se abre um espaço para refletirmos sobre as máscaras, ou o receio da responsabilidade real. A maternidade real, assim como qualquer relação verdadeira, exige entrega, renúncia, convivência com o erro e disposição para crescer. Já um bebê reborn que não chora de madrugada, não adoece, não exige decisões difíceis. É uma forma segura e controlada de experimentar o afeto — sem riscos, sem falhas, sem transformação.
Viktor Frankl, psiquiatra e criador da Logoterapia, porém, nos diz que “quanto mais o homem se esquece de si mesmo — ao servir uma causa ou amar outra pessoa —, mais humano ele se torna.” Esta aparente fuga do amor real talvez esteja camuflando algo maior. Um vazio, um medo de errar, medo de sofrer, medo de perder. Talvez a resistência de assumir o compromisso e de transformar-se, ou renovar-se. O medo nesse sentido, é também o medo de se relacionar de verdade, com tudo o que isso implica: frustrações, aprendizados, perdas, confrontos e amadurecimento. E é tudo isso que nos faz crescer.
Vivemos tempos em que o desejo de se relacionar é enorme, mas a força de sustentar o outro na imperfeição, e de sustentar a si mesmo frente às próprias falhas, tem sido ausente. Por isso, substituímos a complexidade dos vínculos reais pela previsibilidade das relações simuladas. Mas vínculos reais nos moldam. Nos frustram, nos curam e nos fortalecem.
Nesse mês das mães, que saibamos reconhecer não só o amor materno, mas também a coragem de quem enfrenta o medo da responsabilidade para se lançar no desafio mais humano que existe: amar e ser amado, com tudo o que isso implica, crescer, se fazer e sentir a dor do amor.