Rotina do bem
João Carlos
- abril 26, 2025
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Já parou pra pensar e aprender com a sua rotina? O que há de conhecimento e sabedoria no cotidiano banal de um dia? Abril chegou com sua cor azul bordando os dias de sentido. O mês de abril é marcado pela campanha azul, de conscientização do transtorno do espectro autista. Onde uma das características mais presentes é a necessidade de rotina, previsibilidade.
Através da campanha, aprendemos que a rotina pode ser refúgio, e que limites bem cuidados não aprisionam, sustentam e transmitem segurança e amor.
É tempo de lembrar que, para muitos, rotina não é prisão — é abrigo. Onde a previsibilidade não limita: orienta. É o fio que costura o tecido do mundo para que ele não se desfaça em excesso e ruído. Nesse compasso, aprendemos que limites bem cuidados não acorrentam, sustentam e trazem boas oportunidades de aprendizado. São colos silenciosos que dizem: “aqui, você está seguro”.
Todos temos pequenos rituais que todos carregamos. A xícara sempre à direita, o caminho repetido até o trabalho, o modo exato de dobrar as roupas, os silêncios respeitados como preces. Chamam de rotina, mas talvez sejam bússolas. Mapas secretos que desenhamos para não nos perdermos no caos dos dias. O costume, quando nasce do cuidado, é uma forma de amor.
Dizem que a rotina é tédio, repetição, relógio sem alma. Mas, vista com olhos de poeta, ela é ensaio: uma dança miúda entre o gesto e o sentido. A colher que gira o café sussurra sobre a paciência. O sapato que calçamos apressa o passo, mas ensina a tocar o chão. A prática constante é uma sinfonia invisível, afinando nossos sentidos para o espetáculo da vida.
Outro dia, no meu retorno habitual para casa, vi um cão. Corria com fervor atrás de um carro — talvez seu dono, talvez seu porto. O carro que estava bastante distante, virou a esquina e o cão por sua vez apesar de não ter visualizado, não hesitou. Parou. E, como quem escuta o chamado de um faro ou de uma lembrança, virou na mesma direção. Seguiu firme. Era um cão, mas parecia bússola. E ali, entre semáforos e pensamentos, aprendi: quem tem um ponto de referência, não se perde do caminho.
Assim é a rotina quando a olhamos com atenção. Ela grita sabedorias pelas calçadas. Ensina com gestos miúdos e repetições sutis. A cada dia que parece igual, há algo de novo a ser colhido. Porque a rotina, no fundo, é uma sala de aula. E viver com atenção é aceitar o convite para aprender com o velho que, todos os dias, se reinventa diante de nós.